Artista de MS integra homenagens ao centenário de Helena Meirelles em SP
Obras do artista Kelton Medeiros estarão expostas durante a programação que celebra o centenário da Dama da Viola
Depois de retratar a cantora Helena Meirelles, ícone da música sertaneja, em diversas ruas de Campo Grande, o artista Kelton Medeiros também vai homenagear sua musa inspiradora em São Paulo.

Os ‘lambe-lambes’ da violeira, feitos pelo artista, integram a programação que celebra o centenário da musicista na galeria do Sesc 24 de Maio, na República, bairro no coração da capital paulista.
Não é de hoje que Kelton externa o fascínio dele pela cantora, usando as ruas como tela. Os olhares mais atentos de quem a pelas avenidas Heráclito Diniz de Figueiredo e Eduardo Elias Zarhan, em Campo Grande, com certeza notaram as ilustrações da cantora, colados em postes.

Como são feitos sem , os trabalhos de Kelton ganharam visibilidade através da mídia. O Primeira Página, inclusive, já fez matéria sobre a técnica dele. Foi seguindo a cobertura do trabalho artístico de Kelton na imprensa que os curadores do Sesc chegaram até ele.
“A curadora do Sesc viu o meu trabalho nas ruas, tenho lambes espalhados aqui na rua Augusta, e chegou até a mim através das reportagens que já foram feitas sobre o meu trabalho”.
Kelton Medeiros, artista de rua.
As negociações culminaram na ida do artista para São Paulo no final de junho. Kelton continua em São Paulo concluindo a confecção dos totens com os lambes que vão transportar a arte de rua para dentro da exposição.
Divulgação do centenário de Helena Meirelles
A programação da mostra “Guira Campaña” em homenagem ao centenário de Helena Meirelles no Sesc 24 de Maio ainda inclui rodas de conversa, shows, oficinas, apresentações culturais, entre outras atividades que celebram a vida e obra da artista sul-mato-grossense.
A curadoria é feita pelas programadoras culturais Bárbara Esmenia e Zulaiê Silva. As datas do evento serão divulgadas nos próximos dias.
Inspiração
Kelton nasceu na terra da garoa, mas se mudou para o interior de Mato Grosso do Sul ainda criança. Há pelos menos 5 anos, o artista trabalha variações do perfil da cantora nos ‘lambe-lambes’ e adesivos feitos por ele.
De semblante sério, Helena tinha o chapéu como marca registrada. As obras são uma influência da época em que ele morou próximo à região do Nabileque, no Pantanal de Miranda.
“Meu pai foi operário, trabalhador rural, sempre ouvia rádio sertaneja. E a própria região tem muita influência da cultura pantaneira e a Helena faz parte disso. Então ela fez parte dessa minha vivência, foi algo que surgiu de forma muito espontânea”.
Kelton Medeiros, artista de rua

Trajetória da Dama da Viola
A trajetória de Helena Meirelles e o que ela representa como artista e mulher são parte crucial da cultura de Mato Grosso do Sul. Na música, ela atingiu relevância mundial.
Helena Pereira da Silva Meirelles nasceu em uma sexta-feira, dia 13 de agosto de 1924, na cidade de Bataguassu. Cresceu na região da vila ribeirinha Porto XV, rodeada de peões e violeiros. Foi em meio à rotina do campo que Helena aprendeu a tocar viola quando ainda era criança a contragosto dos pais.
Aos 17 anos, ela foge de casa e da cultura machista que insistia em tentar podar o talento dela.
Helena Meirelles ficou 30 anos desaparecida da família, período em que seguiu tocando polcas, chamamés e fandangos em bares, festas, bailes e até bordéis.
A cantora teve 11 filhos, se casou 3 vezes e “renasceu” após ser reencontrada doente por familiares e ser levada para a região metropolitana de São Paulo, na década de 1970.

O reconhecimento só ocorreu depois que um sobrinho de Helena enviou as músicas da tia para uma revista estadunidense. Foi então que, em 1993, quando já estava na casa dos 60 anos, que Helena foi reconhecida pela Guitar Player como uma das 100 melhores instrumentistas do mundo.
Entre 1994 e 2004, Helena lançou quatro álbuns, se apresentou em programas e trabalhou com artistas como Almir Sater e Renato Andrade. No dia 28 de maio de 2005, em Campo Grande, a cantora morreu aos 81 anos em decorrência de uma pneumonia.
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Em 2012, Helena ainda foi listada entre os 30 maiores ícones brasileiros da guitarra e do violão (Categoria: Raízes Brasileiras) da revista Rolling Stone Brasil.
A Dama da Viola, como ficou conhecida, teve trajetória semelhante à de outras grandes divas da música, marcada pelo sofrimento, tragédias, mas também sucesso e um legado a serem lembrados pela eternidade. Uma herança cultural que Kelton Medeiros faz questão de exaltar.
“Eu fiquei muito feliz pelo convite, mas mais feliz ainda por essa homenagem ao que dona Helena representa. Esse é um trabalho que eu já faço a bastante tempo e ter essa memória dela homenageada no principal Sesc Cultural aqui de São Paulo é histórico. Todo ano tem que ter uma homenagem dessas para recordar a Dona Helena que era uma figura fantástica, não só pela música, mas pela trajetória dela”.
Kelton Medeiros, artista de rua.
No mês que vem, o trabalho de Kelton também estará exposto durante a programação em homenagem à Helena Meirelles, na Concha Acústica que leva o nome da artista, no Parque das Nações Indígenas.