Liderança indígena dos Tapayuna morre aos 76 anos 6g3a71
Liderança e símbolo de resistência, a anciã Ngaimotxi Kajkwakratxi, de 76 anos, morreu nessa quarta-feira (26), de parada cardíaca e acidente vascular cerebral isquêmico. Ngaimotxi Kajkwakratxi havia sido hospitalizada recentemente por problemas de saúde, mas voltou a ar mal após receber alta e não resistiu.
Ela estava internada no Hospital Municipal de Querência. A anciã ficou conhecida como uma das lideranças dos Tapayuna na luta pela demarcação do território tradicional da etnia, na região da bacia do rio Arinos, perto do município de Diamantino , a 180 km de Cuiabá.

Para a arqueóloga e presidenta do IHB (Instituto Homem Brasileiro), Ngaimotxi era um “livro vivo” de sabedorias atemporais dos Tapayuna. Até hoje o território não é demarcado e sofre com ameaças de invasão.
“Ela lutou por sua terra. Ela sobreviveu aqui com o povo Kĩsêdjê, que é um povo diferente, mas nossas línguas são parecidas. Ela e os Tapayuna que viveram aqui criaram a gente, então eles deixaram a semente crescer, e a gente vai ficar forte. A gente continua como seus descendentes. Espero que o povo Tapayuna não seja extinto”, comenta Ropkrase Tapayuna Suiá, uma das jovens lideranças da etnia.
Liderança na luta por demarcação de território 2k3869
Ropkrase se refere ao genocídio e desterro aos quais foram submetidos os Tapayuna na segunda metade do século 20, quando a etnia quase foi extinta. Boa parte dos indígenas morreu em dois envenenamentos dolosos nas décadas de 1950 e 1960.

Posteriormente, em 1970, uma expedição da Funai (Fundação Nacional do Índio) levou uma epidemia de gripe que quase dizimou o restante da população, restando apenas 41 sobreviventes.
Na ocasião, eles ainda viviam em seu território tradicional. Porém, em 1976, alguns anos após quase serem exterminados, o Governo Federal publicou o Decreto 77.790, extinguindo a Reserva Indígena Tapayuna, que havia sido demarcada em 1968. E assim, os poucos sobreviventes foram realocados para o Território Indígena do Xingu e lá viveram até meados dos anos 1980.
Todavia, após a morte de um importante pajé, parte do grupo foi morar com os Mebengôkrê (Kayapó), na Terra Indígena Capoto-Jarina. Atualmente, a população soma cerca de 160 indivíduos, considerando filhos de casamentos com os Mebêngôkre e Kĩsêdjê, com os quais vivem nas terras indígenas Capoto Jarina e Wawi, ambas em Mato Grosso.
Algumas famílias conseguiram fundar uma aldeia própria na Terra Indígena Wawi, inclusive era onde Ngaimotxi vivia. Os Tapayuna resistiram e vivem um processo de reemergência e fortalecimento como povo. Eles lutam por autonomia e pela retomada do território tradicional.
Ngaimotxi Kajkwakratxi foi uma das protagonistas desta reorganização. Ela cresceu na aldeia Huitarekô, próxima do córrego Huaré, até que foi obrigada a sair para vivenciar a triste epopeia de seu povo.
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