Em "carta para a morte", psiquiatra escreve o que pensa um suicida 4v3r2d

“Eu não quero mais viver.
Não, não é isso.
Não quero mais isso em que minha vida se transformou. Isso que deve ter outro nome, porque eu vivia antes e sei que isso aqui não é viver.”

O parágrafo acima é um trecho da “Carta para a Morte”, escrita pela médica psiquiatra Nathalia Neres da Ros. O texto publicado nas redes sociais traz para a reflexão o tema suicídio no chamado “Setembro Amarelo”. Os dizeres sintetizam como pensa uma pessoa prestes a tirar a vida e resumem o que 11 anos dedicados à psiquiatria mostraram para Nathalia.

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“Eu repito apenas. Repito dias tediosos, previsíveis e ináveis.
Meu cérebro costumava funcionar, sabia? Eu era capaz de tomar decisões. Pensamentos se concatenavam em planos e eu prosseguia a executá-los.

Assim, subi vários degraus pela história.
Agora paro diante do armário sem saber pegar uma calça, com uma neblina no juízo
“.

Durante muito tempo se acreditou que falar sobre o suicídio “incentivava” pessoas, até as notícias sobre o assunto eram evitadas na imprensa. “Alguns anos atrás se acreditava que não deveríamos falar sobre isso, porque poderia suscitar nas pessoas que estivessem pensando a fazer, como se isso pudesse incitar o paciente ao suicídio, mas com o tempo e as pesquisas, se pode entender o contrário. Falar sobre suicídio ajuda a pessoa doente que esteja pensando em suicídio a se abrir, a falar sobre e isso pode salvar vidas. Falar sobre suicídio é fornecer abertura”, explica Nathalia.

Desde 2014 a Associação Brasileira de Psiquiatria, em parceria com o Conselho Federal de Medicina, ou a organizar nacionalmente o “Setembro Amarelo”, mês de campanha para conscientização e prevenção ao suicídio. O foco é na prevenção e falar sobre o tema é umas premissas, desde que seja para ajudar, para discutir saúde mental e ajudar a combater os gatilhos de quem já tem algum problema que possa levar ao ato extremo.

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Endereçada à morte, a carta é a última da série publicada pela médica com temas diferentes que vão de pessoas a sentimentos. Aproveitando o mês de setembro, Nathalia decidiu abordar o suicídio escrevendo, não sobre explicações de quem partiu, mas e sim sobre o que se a nos pensamentos de um suicida.

“A gente ouve falar sobre a carta que o suicida acaba deixando para explicar para as pessoas porque ele tomou a decisão. Eu quis abordar o tema de uma outra ótica, não técnica. Eu queria começar a mostrar o que o paciente pode estar sentindo quando ele pensa sobre o suicídio”, descreve a médica.

“Eu também sabia sentir coisas, havia colorido em minha mente. As manhãs podiam ser interessantes, tristes, assustadoras ou alegres. E eu gostava de me surpreender em como a noite terminaria.
Agora, sinto vazio. Não há prazer, existe um silêncio absurdo de entonações.

Meu corpo se mexia, movimentava, dormia, comia, dançava. Agora dói.
Você consegue entender, não é? Sei que outros como eu já te disseram.
Eu não quero morrer, eu preciso de folga”.

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Imagem compara as diferenças no cérebro quando a pessoa está deprimida. (Foto: Reprodução das redes sociais)

Para escrever a carta, Nathalia somou as frases ouvidas por pacientes ao longo dos últimos 11 anos de atendimento em Psiquiatria. “Eu já ouvi a ideia de suicídio sendo exposta de muitas maneiras diferentes, e quis tentar ar o quanto o paciente sofre, resiste e luta no processo de pensar sobre o suicídio para que as pessoas comecem a olhar para isso de forma mais empática”, afirma a médica.

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Para a médica, é importante entender o processo que pode levar alguém a dar fim à própria existência, deixar de lado os julgamentos e estender a mão para ajudar. “A depressão é uma doença. Ela é uma falha neuroquímica cerebral que promove um desequilíbrio, um não funcionamento do cérebro”, explica Nathalia.

O tratamento é, assim como a maioria das doenças, multifatorial, e envolve medicação, terapia e mudança de estilo de vida.

“É ridículo quanto tempo se ou desde que eu não pense em você todos os dias, apavorado de que possam me descobrir.
O que me assusta mais? Conseguir ou falhar?
Ando no fio da navalha, entre a vergonha de que alguém veja nos meus olhos o que cogito e o cansaço de mais um dia sem mim, aquele bom e velho eu que me deixou.
Alguém me falou de doença e ajuda e remédio e cabeça erguida. Engraçado, você não acha? Não tenho esperança, não faz sentido que tudo isso seja apenas uma falha química de neurônios.
Eu não quero sobreviver. Quero voltar a viver.
Por gentileza, Dona Morte, você saberia me dizer se estou vivo?
Eu visto um sorriso que estava pendurado na saída de casa e tento mais um dia”.

Ajuda 526x4m

Se você identificou pensamentos como os descritos na carta acima pode pedir ajuda para o CVV (Centro de Valorização da Vida) que realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias. O telefone é o 188.

Em Campo Grande, tem um serviço específico de atendimento, o GAV (Grupo de Apoio à Vida) que presta serviço gratuito de apoio emocional pelos telefones: 3383-4112, (67) 99266-6560 (Claro) e (67) 99973-8682, todos sem identificador de chamadas.

O horário de funcionamento das 07:00 às 23:00, inclusive sábados, domingos e feriados.

Você também pode ir até uma unidade básica de saúde, ar por consulta e pedir encaminhamento para ser atendido em um CAPS (Centro de Atendimento Psicosocial).

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