"Sufocadas pelo uso da violência", define antropólogo sobre vítimas de feminicídio em MS 1z3z1h
Segundo Asher Brum, a violência contra a mulher faz parte de uma estrutura cultural do estado. k1559
Mato Grosso do Sul é um dos estados brasileiros com maiores índices de feminicídio e de violência doméstica contra a mulher do país. Para o professor doutor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Asher Brum, a violência contra a mulher faz parte de uma estrutura cultural que existe no estado.

“Com um olhar mais preciso, também perceberíamos que existem formas de resistência a esse poder e que, na grande maioria dos casos, são sufocadas pelo uso das violências física e moral”, afirmou Brum sobre a 3ª edição do Relatório do Poder Judiciário sobre Feminicídio.
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Na avaliação do antropólogo, tendo a motivação dos atos violentos o ciúme e o inconformismo com o término do relacionamento, além da maioria dos locais do crime ser a residência do casal, mostra o locus privilegiado da violência contra a mulher.
“Se observarmos os casos mais de perto, provavelmente perceberemos a antiga dinâmica patriarcal em que o senhor é o centro da casa, seu reino, na qual tem autoridade e domínio sobre tudo e todos que entram em sua esfera de poder. Seu poder estende-se sobre pessoas e sentimentos, corpos e afetos”, observou Brum no relatório sobre as 89 ações penais de feminicídio distribuídas em 2021 no SAJ (Sistema de Automação do Judiciário).
De acordo com o documento, a o objeto utilizado como arma foi a faca (38,20%), seguida pela arma de fogo (20,22%). No entender do doutor, a faca é usada como instrumento doméstico para cozinhar e imolar animais, mas no contexto da violência doméstica, representa punição.
Para o homem patriarcal, o senhor do lar, a redenção para a mulher que o abandonou ou que despertou-lhe ciúmes provém do corte da lâmina. Da perfuração do corpo e da carne que pertencem a ele. Em segundo lugar, vem o uso da arma de fogo, objeto fálico, assim como a faca, que representa toda a virilidade, o poder e a autoridade masculina
Asher Brum, Professor Doutor do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social
da UFMS
O relatório de 2021 demonstram dados numéricos que podem ser comparados para traçar tendências em Mato Grosso do Sul. A pesquisa estatística associada com a análise de caso ajuda a pensar a respeito de políticas públicas para a diminuição dos números do feminicídio e da violência contra a mulher.
Dados 5q1d2u
Dados da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública) mostram que neste ano já foram registrados 20 casos de feminicídio em Mato Grosso do Sul, sendo cinco em Campo Grande. O último ocorreu nesta quinta-feira (2), em Ribas do Rio Pardo, município a 86 km da capital, em que o namorado matou a namorada e o filho dela a facadas.
Em 2021, foram registrados 34 casos de feminicídio no estado, sendo apenas dois na capital. Durante todo o ano, apenas no mês de novembro não ocorreu nenhuma morte de mulher por causa de gênero.