Em meio a um apagão que paralisou transportes, afetou hospitais e derrubou redes de internet e telefonia, o rádio voltou a ser a principal fonte de informação para milhares de pessoas na Espanha e em Portugal, nesta segunda-feira (28). A falha elétrica também atingiu partes do sul da França e deixou os sistemas digitais fora do ar, evidenciando a importância do rádio em situações de crise.
De acordo com o jornal “El País“, em Madri e Barcelona, lojas ficaram sem rádios portáteis e pilhas em poucas horas.
Homem e criança em mercado durante apagão em Vigo, Espanha. (Foto: Miguel Riopa/ AFP)
O colunista Quino Petit, em artigo publicado no veículo de comunicação, destacou que o rádio voltou a ser essencial em situações de emergência — como já havia ocorrido durante os temporais que atingiram a Espanha em 2024.
Conforme divulgado, a Cadena SER e a Rádio Nacional da Espanha (RNE) continuaram no ar com ajuda de geradores. Elas transmitiram, em tempo real, atualizações sobre o apagão e os pedidos das autoridades para manter a calma.
Em Portugal, o cenário foi parecido. A Rádio e Televisão de Portugal (RTP) manteve as transmissões mesmo durante a pane elétrica, ajudando a orientar a população nas ruas, onde os semáforos apagados e a ausência de metrôs causaram confusão.
Na capital portuguesa, Lisboa, muitos serviços foram interrompidos, mas as rádios continuaram ativas. Ambulâncias e viaturas policiais circularam com dificuldade, enquanto parte da população se informava por transmissões em frequência modulada (FM).
A corrida por rádios portáteis foi imediata. Em Badalona, uma enfermeira que andava com um rádio foi cercada por pessoas em busca de notícias. Em Barcelona, consumidores formaram filas em lojas que ainda tinham lanternas e rádios à venda.
Para Ulisses Serotini, a corrida por rádios portáteis na Espanha e em Portugal ilustra o caráter democrático e ível do rádio. (Foto: Gabi Braz)
O presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, chegou a se pronunciar pelo rádio no início da noite dessa segunda-feira (28), pedindo que a população acompanhasse apenas os canais oficiais e garantiu que os hospitais estavam operando com geradores.
Segundo a Red Eléctrica da Espanha, o blecaute começou por volta das 12h30 (hora local) e a empresa trabalha para reestabelecer os serviços.
A União Europeia acompanha o caso e informou que os protocolos de emergência foram ativados. A França também ofereceu ajuda técnica, aumentando sua capacidade de enviar energia para a Península Ibérica.
Quando tudo falha, o rádio fica 206c6z
Mesmo com o avanço da tecnologia, o episódio mostrou que o rádio continua sendo um aliado indispensável em momentos de crise. Para Ulisses Serotini, diretor de Programação, Entretenimento & Comunicação da Rede Matogrossense de Comunicação, o que se viu na Europa é um lembrete contundente da força e da relevância desse meio de comunicação centenário.
“O rádio permanece como uma força resiliente e essencial no mundo atual, mesmo diante de tantas inovações tecnológicas. É fascinante observar como este meio, com um século de existência, continua sendo um elo vital entre a informação e a população, especialmente em momentos críticos”, avalia Serotini.
Segundo ele, a corrida por rádios portáteis na Espanha e em Portugal ilustra perfeitamente o caráterdemocrático e ível do rádio.
“Esta procura repentina por rádios durante a crise não foi nostálgica, mas pragmática. As pessoas redescobriram que, quando todas as tecnologias sofisticadas falham simultaneamente, o rádio continua lá, cumprindo seu papel fundamental. Essa confiabilidade em momentos críticos reafirma sua relevância social e seu caráter verdadeiramente democrático”, afirma.
O rádio é consumido por cerca de 80% da população brasileira, diz pesquisa. (Foto: Freepik/Reprodução)
Para Ulisses, o rádio se destaca por não depender de estruturas complexas e por ser facilmente ado por qualquer pessoa, em qualquer lugar.
“Enquanto outros meios exigem total atenção visual ou dependem completamente de infraestruturas complexas, o rádio mantém sua simplicidade operacional e sua capacidade de acompanhar as pessoas em qualquer situação — seja no carro, no trabalho, ou durante uma caminhada”, explica.
Ele também ressalta que, mesmo com as evoluções tecnológicas, o rádio se adaptou sem perder sua essência:
“Hoje temos podcasts, streaming de áudio e aplicativos de rádio, que são evoluções que partiram da linguagem radiofônica. A tecnologia não substituiu o rádio; na verdade, o complementou.”
Ulisses destaca ainda que o episódio europeu comprova algo que os profissionais do setor sempre defenderam:
“Em momentos de ruptura social ou desastres, o rádio assume seu papel mais nobre como serviço essencial à população. Vimos pessoas compartilhando informações obtidas via rádio, transformando ouvintes em transmissores de notícias para aqueles sem o — um fenômeno que demonstra o poder multiplicador do meio.”
Para ele, mais do que um canal de informação, o rádio cria uma relação de intimidade com o ouvinte.
“O rádio não é apenas um meio de comunicação, mas um companheiro que fala diretamente ao ouvinte, criando uma intimidade que poucos veículos conseguem estabelecer”, conclui.
Ulisses Serotini é apaixonado pelo rádio. Por muitos anos foi apresentador da Centro América FM e, hoje, é responsável pelas seis emissoras de rádio da Rede Matogrossense de Comunicação — afiliada à Rede Globo — nos estados de Mato Grosso (Centro América FM) e Mato Grosso do Sul (Morena FM).