Pêssankas, a arte ucraniana que pinta ovos, são conexão de artesã com ancestralidade 1z2h
Pêssankas são os ovos decorativos escritos e coloridos à mão. Apesar de não serem relacionadas apenas com a Páscoa, é principalmente na data que elas ganham destaque 2w1r38
A verdadeira cesta da Páscoa para a artesã Vanessa Jerba não é de chocolate, e sim de cascas de ovos pintadas à mão que carregam uma história de resistência dos ancestrais ucranianos. Paranaense de nascença, a Ucrânia não está só na arte de Vanessa como também no sangue.

“Meus bisavós paternos eram ucranianos. Desde a adolescência eu faço artesanato, aprendi em uma oficina com colegas do grupo folclórico ucraniano que eu dançava na época”, conta.
As pêssankas são os ovos decorativos escritos e coloridos à mão. Apesar de não serem relacionadas apenas com a Páscoa, é principalmente na data que celebra a ressurreição de Cristo que elas ganham destaque.
Feitas desde a era pré-Cristã, primeiro em comemoração à chegada da Primavera e como oferenda ao deus eslavo do sol, Dajboh, as pêssankas foram ressignificadas durante as cristianização dos eslavos, e assim aram a fazer parte da Páscoa.

Enquanto ponta encosta na casca com a maior sutileza sem deixar de ser firme, a artesã contextualiza o significado por trás da escrita. A palavra pêssanka vem do verbo ucraniano “pessate” que significa escrever.
As pêssankas podem ser feitas com ovos de codorna, galinha, gansa e até avestruz. O processo é bem detalhado e demorado. O primeiro o é traçar à lápis, para depois seguir com a tinta. A pintura é feita com técnica a partir de cera de abelha que isola parte do desenho na hora do banho e por fim, é a chama da vela que dá o acabamento.
O que a gente pode enxergar como desenho, na verdade são símbolos ancestrais que transmitem uma mensagem.
“Por exemplo, ao querer desejar prosperidade e fartura a alguém, utilizamos na escrita da pêssanka ramos e grãos de trigo, assim como se desejarmos amor, caridade e amizade, escreveremos flores. A pêssanka traz consigo uma rica simbologia perpetuada pelos povos eslavos ao longo da história e também sentimentos de renovação e esperança. Muitos ucranianos a consideram como um amuleto protetivo familiar”, descreve Vessa Jerba.
Moradora de Campo Grande desde 2004, é no ateliê que funciona em casa, no Bairro Monte Castelo, que Vanessa reproduz a cultura dos bisavós colocando nos riscos paz, prosperidade e renovação. Com familiares e um povo devastado pela guerra, é na Ucrânia que concentram os pensamentos da artesã enquanto produz.
“Em tempos de guerra, minhas artes tem sido a maneira que encontrei não só para continuar me reconectando com minha ancestralidade, mas também como terapia para deixar os pensamentos mais leves”, comenta.
Usando flores, plantas típicas e cores da bandeira ucraniana, esta é forma de Vanessa demonstrar apoio ao povo que desde sempre lhe ensinou a resistir. “Quando vejo a resistência do povo ucraniano, lembro-me de agens da obra de Érico Veríssimo. A personagem Ana Terra diz que resistir é algo que a família dela aprendeu desde a sua origem. O povo ucraniano é assim. Um povo que aprendeu a resistir”.
