Pé de laranja de mais de 17 anos é xodó de moradora do Araés 2v2a4i
Sombra do pé de laranja é um dos locais preferidos da casa para Luzia Irene dos Santos, de 54 anos. Antes de se mudar, ela já irava a árvore 36395o
Quem a em frente à casa de Luzia Irene dos Santos, de 54 anos, no bairro Araés, em Cuiabá, tenta imaginar a história por trás do pé de laranja repleto de cachos da fruta pendurados sob o muro em plena região central. Há 17 anos, a sombra feita pelos galhos da árvore é um dos locais preferidos de Luzia quando ela quer fugir do calor cuiabano ou apenas relaxar e ouvir MPB, seu estilo musical favorito.

Apesar de não saber dizer com exatidão quando a árvore foi plantada, ela se lembra de irá-la mesmo antes de se mudar para o imóvel. Ela conta que a casinha amarela tem cômodos pequenos, mas o quintal onde outras plantas rodeiam o pé de laranja faz com que ela nem pense em se mudar.
“Sempre morei aqui nessa rua, ficava ‘namorando’ o pé de laranja. Quando descobri que a casa estava disponível para alugar, não pensei duas vezes. Se não fosse essa árvore, acho que nem moraria mais aqui”.
Por muito tempo, morar na casa com pé de laranja foi apenas um sonho para Luzia, que do outro lado da rua irava a árvore dar frutos durante todo o ano. Cuiabana “de pé rachado”, como é chamado quem nasce e cresce em Cuiabá, ela mora na mesma rua do bairro Araés desde a juventude.

Luzia nasceu em Chapada dos Guimarães, a 64 km da Capital, mas se mudou muito nova em busca de melhores condições de estudo e, mais tarde, trabalho. Já fez de “tudo nessa vida”, mas, há nove anos, trabalha na portaria de uma escola.
Quando chegou em Cuiabá, morou durante a maior parte da vida na casa em frente ao local onde vive atualmente, de onde costumava irar os galhos do pé de laranja cobrindo o muro da casinha amarela.
Assim como a família que morava na casa, os colegas de trabalho na escola são parte da grande família que Luzia constrói por onde a.
“Vim para morar com essa família, que depois também se tornou minha. Cresci com todos, vi a família aumentar. Virei até madrinha de uma das crianças que nasceram. Hoje tem 19 anos, somos todos muito próximos”.
Quem plantou o pé de laranja? 6n3i48
Luzia não sabe a origem exata do pé de laranja que sempre irou de longe, mas, antes de alugar a casa, uma senhora morava no local. Ela conta que a antiga moradora foi a responsável por plantar a árvore no quintal.
“Ela morou a vida toda nessa casa, até morrer. Não sei direito toda a história, mas a casa ficou com outra pessoa. Foi quando aluguei. Tenho lembranças muito antigas dessa árvore”.

O pé de laranja é o maior “xodô” de Luzia, assim como a cadela chamada “Judite” que vive solta no quintal em meio as plantas. Por conta do amor que tem pela árvore, ela aprendeu um pouco sobre jardinagem e redobra os cuidados.
“Tenho medo de chamar alguém para cuidar e acontecer alguma coisa errada. Antes deixava uma mangueira perto do pé de laranja, mas tirei, fiquei com medo. Agora está precisando podar, é o máximo que eu faço”.
Ela explica que os cuiabanos mais antigos chamam a laranja de “misteriosa” e que ela é muito usada para fazer doces. Quando se mudou, Luzia lembra de ter “enjoado” de tanto comer a fruta sentada embaixo da árvore.
“Sempre dou sacolas cheias para quem vem aqui em casa, porque ele [o pé de laranja] dá fruta o ano todo. As que caem do lado de fora, as pessoas também sempre pegam. A laranja é diferente daquelas que compramos no mercado. A casca é bem grossa e a polpa é docinha”.

Memórias afetivas 134y6z
Na mesa colocada estrategicamente embaixo do pé de laranja e coberta por uma toalha de renda, Luzia aguarda a reportagem do Primeira Página com um álbum de fotos. Dentro dele estão dezenas de memórias da família de Luzia e, na maior parte delas, a árvore está presente.
“Todos da família gostam muito do pé de laranja, assim como eu. É um privilégio poder ter uma árvore assim no quintal de casa. Gosto muito de cozinhar, então faço as comidas, chamo todo mundo e é debaixo do pé de laranja que ficamos”.
As fotos no álbum não desmentem Luzia. Nas imagens, crianças e adultos aparecem sorridentes em momentos de festa. Na maior parte das fotografias, o pé de laranja é plano de fundo das comemorações em família.
Ao lado de Luzia, a mãe dela Berenice dos Santos, de 75 anos, observa a filha contar as histórias do pé de laranja. Sorridente como a filha, ela concorda sobre o privilégio que é ter uma árvore dessas no quintal de casa.
Apesar das dificuldades da vida, Luzia ainda pinta as unhas de roxo, os olhos de sombra azul e faz café para quem for visitá-la. Além, claro, de deixar a mesa debaixo do pé de laranja sempre preparada para quem quiser aproveitar a sombra.
“Sou muito feliz com a vida que tenho, criei minha filha que agora está se formando, vou até fazer um almoço especial. Debaixo desse pé de laranja já foram muitas comemorações e muitos terços rezados”.
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Comentários (3) 41643k
Histórias como essas mudam o mundo, fazem com que pessoas invisíveis seja notadas e iradas pelas suas vivências. Isso é contar histórias, isso é um jornalismo que não é excludente. Linda matéria Bruna Barbosa, parabéns.
Grande Dona Luzia, guerreira e cozinha muito bem, parabéns!
Luzia é de um coração enorme. Semeia amor a todos que a rodeiam. Pessoa doce e gentil. Cozinheira de primeira linha. Feliz e abençoado quem tem o privilégio de tê-la como amiga.