Medo da morte é reflexo de vida mal vivida, diz escritora best-seller 611bq
Ao Primeira Página, Ana Claudia Quintana fala com profundidade sobre cuidado no fim da vida, luto e dignidade humana 3rb2s
Você já se pegou pensando em como será a própria morte? Ou sentiu medo de envelhecer e morrer? A médica geriatra e paliativista Ana Claudia Quintana Arantes esteve em Campo Grande nesta quarta-feira (30) e emocionou o público ao falar com profundidade sobre cuidado no fim da vida, luto e dignidade humana.

Conhecida pelo best-seller “A morte é um dia que vale a pena viver”, Ana Claudia abordou com sensibilidade a importância de falar sobre a morte como forma de valorizar a vida.
“A gente não morre porque está doente. A gente morre porque está vivo. A morte é o que encerra a vida de todo mundo. Quando você compreende isso, começa a escolher melhor como quer viver”, afirmou.
Em entrevista ao Primeira Página, a médica destacou que o medo da morte muitas vezes está associado à forma como a vida foi conduzida.
“A morte revela a vida que a gente viveu. O pavor da morte é o pavor da vida que a gente levou. Se você olha para sua vida e vê arrependimento, ausência, silêncio onde devia haver palavra, é isso que vai doer.”
Ana Claudia também reforçou a importância de conversar abertamente sobre o fim da vida.
“Se você não quiser falar sobre a morte, tudo bem. Mas saiba que ela não vai deixar de acontecer. O que a gente precisa é de coragem para olhar para isso com naturalidade.”
A médica convidou o público a refletir sobre a maneira como lidam com os próprios problemas cotidianos.
“Problema é algo que tem solução. Porque, se não tem solução, não é problema — é um fato. A morte, por exemplo, é um fato. Não tem solução. O que você pode fazer é manter uma boa qualidade de vida enquanto vive.”
Ela propôs ainda um exercício simples, mas impactante: fazer uma lista com os cinco maiores problemas pessoais.
“Todo mundo tem pelo menos cinco. Se você acha que não tem, tem algo errado com sua percepção da realidade. Agora imagina que você vai morrer na próxima quarta-feira. Olha de novo pra essa lista: o que ainda importa de verdade? O que é mesmo um problema?”
Segundo Ana Claudia, esse tipo de reflexão ajuda a reorganizar prioridades e a transformar a forma como nos relacionamos com o tempo, com as emoções e com os outros.
“Você vai perceber que talvez não precise de terapia duas vezes por semana, nem de antidepressivo ou ansiolítico, nem de beber para esquecer. O que você precisa é de perspectiva.”
Questionada sobre que conselhos daria a quem enfrenta o luto ou teme a morte, ela foi direta:
“Não existe um roteiro pronto, porque cada vínculo mora num lugar diferente dentro da gente. Mas se você estiver perdendo alguém, não perca a chance de perguntar por que essa pessoa te ama. Esses motivos vão ser sua maior fonte de paz para lidar com a ausência eterna.”
Cuidados paliativos u3a6v
A palestra “A morte é um dia que vale a pena viver” foi promovida pelo Hospital São Julião e realizada no Centro de Convenções Arquiteto Rubens Gil de Camillo. A noite contou com uma emocionante abertura da Orquestra Indígena da Fundação Zahran, sob a regência do maestro Eduardo Martinelli.
Mais do que disseminar conhecimento, o evento teve caráter solidário: os recursos arrecadados serão destinados à expansão e melhoria dos setores de cuidados paliativos e reabilitação do Hospital São Julião, fortalecendo a assistência a pacientes e famílias em momentos delicados.