Indígenas usam profissões para cumprir missão de defender suas tradições 11281y
Seja como vereador, DJ ou professor, indígenas de MS não deixam de demonstrar sua cultura e luta pela demarcação 1i119
É durante a jornada de trabalho que muitos indígenas de Mato Grosso do Sul aproveitam a chance de demonstrar suas origens e ideais. Isso não ocorre apenas dentro das aldeias, mas nas Câmaras Municipais, nas escolas e até em outros países.

Liderança Ofayé 33701
Marcelo da Silva Lins, de 37 anos, mais conhecido como Marcelo Ofayé em referência à etnia, participa de encontros indígenas desde a adolescência. À época, acompanhava o então cacique da aldeia Anodi, em Brasilândia, Atayde Francisco.

Conheceu diversas reservas de Mato Grosso do Sul e aprendeu a ser político. Não demorou para que a comunidade o chamasse para assumir a responsabilidade de ser cacique. Ele aceitou e hoje representa as 33 famílias da etnia Ofayé, uma das menores em termos de população do estado, dentro e fora da aldeia Anodi. Ele é vereador em Brasilândia.
“Venho trabalhando junto com a comunidade nossa história, nossa forma de cultura. É o modo que trabalho. Sou vereador e amo fazer tanto o lado político quanto o de representar meu povo”.
Liderança Ofayé 33701

Neto dos criadores da 1ª Associação de Moradores Indígenas de Campo Grande, a do bairro Guanandi, Eric Marky Terena, 29, também aprendeu cedo sobre como poderia ajudar não só sua etnia, mas todas as outras.
“Todo esse trabalho de cuidado com a comunidade indígena eu acompanho desde berço. Cresci nesse meio, sempre fiz parte desse meio e sempre estive atuando tanto na comunidade quanto na cidade”, diz.
Eric é jornalista, especialista em etnomídias, membro idealizador da Mídia Índia, e atualmente desenvolve um trabalho de produção de música eletrônica e cantores indígenas em todo o país.

Na graduação, fez uma reportagem escrita no idioma tradicional Terena para o jornal laboratório “Em Foco” da UCDB (Universidade Católica Dom Bosco) e lutou pela permanência das bolsas de estudos para que jovens indígenas não desistissem do nível superior. “Foi uma forma de fazer a diferença”.
Também participou da cobertura audiovisual da primeira candidatura de uma indígena ao cargo de vice-presidente do Brasil, em 2018, e atuou em jornadas por 14 países da Europa sobre impactos dos empreendimentos no meio ambiente. Também foi responsável pela equipe de cobertura da participação das lideranças indígenas na COP26.
Através da comunicação, Eric mostra ao mundo a luta de seu povo e de outros indígenas brasileiros pela demarcação de terras e reconhecimento.
Metalinguagem dos indígenas Kinikinau 4b2p5y
Quem também usa a comunicação em prol do reconhecimento do seu povo é o professor Inácio Roberto, autor do Dicionário Escolar Bilíngue “Kinikinau-Português”, da editora UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).

Ele explica que, até 2002, os indígenas da etnia kinikinau eram considerados extintos, mas voltaram a ser reconhecidos após “muita luta”. Atualmente são cerca de 600 em todo o Estado, espalhados em outras terras, de outras etnias, mas com cultura própria.
“A educação escolar indígena abriu caminho para esse reconhecimento”, resume o professor.

Na próxima reportagem sobre o assunto, o Primeira Página segue falando sobre orgulho, luta e pertencimento indígena por meio das profissões, mas pela visão exclusiva das mulheres.
Dados da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) apontam que Mato Grosso do Sul tem uma população indígena de quase 90 mil pessoas em ao menos 8 etnias: Guarani, Kaiowá, Terena, Kadiwéu, Kinikinau, Atikum, Ofaié e Guató.
