Feriado Sangrento: o Pânico dos anos 2020 v1v3t
Apesar do sucesso que Feriado Sangrento tem feito entre os fãs do gênero, eu confesso que esperava mais... 3t4yg
Eli Roth virou o queridinho dos filmes de terror quando apresentou dois clássicos do gênero: Cabine do Inferno (2002) e O Albergue (2005).
Tanto que foi agraciado pela dupla Quentin Tarantino e Roberto Rodriguez no projeto Grindhouse (2007). Em sessão dupla, os diretores apresentavam, no cinema, as obras A Prova de Morte (muito bom!) e Planeta Terror (muito louco!). Filmes que eram precedidos por trailers falsos.
Um deles, Thanksgiving, prometia um banho de sangue e de cenas bizarras, com um coitado assado vivo como um peru do Dia de Ação de Graças, num longa que, teoricamente, nunca seria lançado por Eli Roth.
Mais de uma década depois, no entanto, Feriado Sangrento (Thanksgiving, EUA, 2023) chega aos cinemas com o mesmo impacto da época em que foi apenas uma pegadinha.
Dezesseis anos depois, eis que o longa metragem virou realidade. E chegou bombando com uma aprovação de 83% da crítica especializada e 79% da audiência no site termômetro Rotten Tomatoes.
Ótimo para Eli Roth que andava meio sumido.

Ele fez exatamente o que o mestre Wes Craven fez na década de 90, com Pânico.
Criou um slasher puro, com raiz nos filmes giallo italianos da década de 70, onde assassinos mascarados, encapuzados e enluvados brincavam com as apostas da plateia sobre qual seria sua identidade.
Se Craven mostrou ao mundo o Ghostface, com um rosto disforme de boca aberta, Roth deu uma cara a seu maluco: ele usa uma máscara de John Carver, um peregrino famoso da cidade de Plymouth, considerada o berço do feriado querido norte-americano.
A história começa na grande liquidação que é caraterística da data – o Thanksgiving é celebrado num feriado prolongado – a Black Friday.
A principal loja da pequena cidade vai abrir as portas à meia-noite com ofertas incríveis.
Uma multidão se aglomera na frente na ânsia de garantir seus desejos consumistas.
Tudo dá errado e um monte de gente acaba morrendo.
O caso é abafado e, um ano depois, alguém aparece para se vingar do ocorrido.
O misterioso assassino caça, um a um, as pessoas que ele entende responsáveis pela tragédia do ano anterior.
Se Wes Craven inovou, em Pânico, ao brincar com os filmes slasher e suas regras pré-estabelecidas quase que como uma receita de bolo – o melhor amigo morre, a final girl, a mocinha bonitinha e pura, sobrevive – Roth apostou numa roupagem de redes sociais para atrair o novo público.
Afinal, o slasher norte-americano existe desde 1978 e justamente com o nome de outra data festiva norte-americana, Halloween.
Um vídeo do massacre da mal sucedida Black Friday é postado nas redes sociais ironizando as mortes.
O assassino responde na mesma moeda.
Ameaça os envolvidos virtualmente e posta suas vítimas.
Além do que, prepara uma live com um grande banquete onde serve, por exemplo, a cabeça de um dos seguranças que não impediram as mortes na loja.
Confesso que não senti essa adoração toda que o filme tem recebido. Curti, claro, porque tudo é muito bem feito, com mortes elaboradas e ótimos efeitos de maquiagem.
Mas eu esperava mais.
Queria ver mais.
Foi muito fácil descobrir a identidade do mascarado. Fácil mesmo. E nem precisa assistir ao filme pra saber isso – isso é uma dica, não falo mais para não dar spoiler.
O motivo que usa para justificar a matança, além de ser simples demais, também não faz sentido algum quando você compara um dos fatos atribuídos para a raiva do revoltoso à uma característica da vítima que ele perdeu na loja. – outra dica.
Ah! Que pena que não dá pra falar sem estragar a surpresa… Estou louco pra comentar essa minha percepção com alguém que já tenha assistido ao filme.
Tirando esses detalhes, se você não liga muito para esse tipo de coisa, Feriado Sangrento é diversão na certa.
Tem o romance interrompido, tem o namorado chato, tem o estudante exibido que você torce pra ser a próxima vítima. E tem uma protagonista… bem, na verdade, não tem uma Laurie Strode (Jamie Lee Curtis, em Halloween) ou Sidney Prescott (Neve Campbell, de Pânico).
Nell Verlaque, como Jessica – a filha do dono da loja – é uma adolescente em conflito com o pai que, após a morte da esposa, encontrou conforto nos braços de uma mulher mais nova, bonita e gananciosa.
A moça não consegue apresentar o carisma das outras duas famosas final girls.
Aliás, ninguém do elenco se destaca.
Gina Gershon, 61 anos, um dos nomes de peso no elenco, tem um papel pequeno. E Patrick Dempsey – o Derek Sheperd, da série Grey´s Anatatomy – é o xerife que vê as mortes acontecendo embaixo de seu nariz sem evitá-las. É muito currículo para um papel desses. Pensei nisso a cada cena que ele aparece com cara de bobo enquanto tudo de ruim acontece.
Como adoro filmes slasher, torço para que outros cineastas se inspirem na ótima recepção de Thanksgiving para lançar obras melhores.
Se isso acontecer, já terei o que agradecer no Dia de Ação de Graças do ano que vem.