Com história de trigêmeas, curta resgata força da mulher em MS 5y4g59
Curta-metragem documental, As Marias estreia no festival CineSur em Bonito, com a presença das protagonistas 1k2e4e
Quando as trigêmeas Maria Etelvina, Maria Leonor e Maria Salvadora nasceram em 1947, elas viraram notícia. Na época, no então Mato Grosso uno, em plena Guia Lopes da Laguna, cidade que viu a Guerra do Paraguai de perto, era inusitado uma mulher parir três filhas, todas com saúde. Contam, com orgulho, que até o governador veio visitá-las.
Histórias que o cineasta sul-mato-grossense Dannon Lacerda aprendeu a ouvir ao longo dos anos e a valorizar. Entre agens pela cidade e visitas as três tias, ele percebeu que ali residia trajetórias que mereciam ser contadas no curta-metragem “As Marias”.
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“Na verdade, na busca por uma temática para o filme, eu tenho algumas histórias, eu sou tataraneto do Guia Lopes, da senhorinha, já escrevi roteiro sobre a minha tataravó e a participação dela na guerra do Paraguai, mas enfim, é um filme grande, um filme histórico, ela foi sequestrada, ou toda a guerra em Assunção (Paraguai). Dentro do que era possível na época, em maio, do orçamento que eu tinha e tudo mais, eu sempre lembrava que quando eu levava o pessoal do Rio para o Guia Lopes e para Bonito, todo mundo falava, gente, essas tias são muito incríveis, isso dá um filme, todo mundo falava isso para mim”, relembra.
Para ajudar no roteiro, Dannon pediu que cinco grandes mulheres mandassem perguntas para suas tias. Na lista, as atrizes Vera Holtz, Renata Sorrah, a diretora Andréa Freire, Yuda Santiago e Carla Faour, roteirista da série Segunda Chamada, da Rede Globo.
“Eu usei essas perguntas e as minhas para fazer esse documentário. E quando a gente foi montar o documentário, a Nina Galanternick, que eu escolhi para ser montadora, me propôs algumas coisas que eu não queria a princípio, mas que eu acabei entendendo que eram necessárias. E aí o filme ganhou esse corpo que ele apresenta hoje. Embora, claro, muita da estrutura estivesse planejada antes, que era para falar dessa mulher sul-mato-grossense do século ado”, explica.
Etelvina, Santinha e Duna, como são conhecidas na cidade, originam-se de famílias tradicionais, sendo trinetas de José Francisco Lopes – o Guia Lopes, imortalizado na obra Retirada da Laguna de Visconde de Taunay – e de Senhorinha Barbosa Lopes, assim como Dannon.

No documentário, o cineasta fez questão de incluir um retrato dos costumes das cidades interioranas da região de fronteira, como a sopa paraguaia, a chipa, a guarânia e o chamamé, porém é através da intimidade de cada uma das trigêmeas que o filme realiza uma reflexão sobre os papeis atribuídos às mulheres no século ado que, em sua maioria, eram criadas para obedecerem aos pais, aos maridos e à igreja. O curta, segundo ele, apresenta aspectos de um Brasil da fronteira, profundo, e ainda desconhecido pela maioria das pessoas.
Filme foi gravado em MS 20496s
O filme foi gravado em Guia Lopes da Laguna, cidade distante a 216 km de Campo Grande. Ele será exibido neste domingo (5), como parte da programação do Festival de Cinema Sul-Americano de Bonito.
“Gravei lá e aí eu fui para o Rio de Janeiro, porque o filme foi selecionado para o Festival do Rio, onde foi exibido no dia 8 de outubro, onde foi muito bem recebido. Agora foi selecionado para o Festival de Bonito, e como minhas tias moram em Guia Lopes, elas vão para a estreia do filme”, comenta.
Para Dannon, contar a história das tias, foi uma forma de mostrar também a força da mulher sul-mato-grossense.
“É claro que eu eu sabia né as histórias de todas, inclusive as não contadas e aí eu entendi a potência disso. Eu dependia claro delas quererem contar essas histórias, eu tinha que ter também uma questão ética de respeito e assim eu também sabia que ao contar a história delas eu estaria falando da mulher sul-mato-grossense da fronteira. Muitas vezes a gente fala só da mulher do Mato Grosso do Sul como se fosse Pantanal né, mas o Pantanal é um pedaço do Mato Grosso do Sul”, acredita.
O curta intimista ainda traz a música e a cultura de MS, de um jeito bem próximo do cineasta.
“Eu queria falar também dos costumes da chipa, queria falar da música, minha prima, ela é cantora, ela canta enquanto elas dançam, então eu fui recompondo também cenas da minha infância, essa infância de uma pessoa que foi criada por mulheres, meu pai morreu muito cedo, meu avô também. Então as minhas referências sempre foram essas mulheres fortes, independentes”.
O filme será exibido no dia 5 de novembro, às 18 horas, no festival CineSur. De lá, ele deve seguir para outros festivais, inclusive no exterior.