Estudo inédito mostra que incêndios florestais atingiram a Amazônia há 43 mil anos 2e6r6x
Durante o Pleistoceno Superior, o planeta Terra experimentou intensas oscilações climáticas, alternando entre períodos glaciais e interglaciais, com variações nos níveis de umidade. 2q1k4y
Uma descoberta acaba de lançar nova luz sobre a história da Amazônia. Uma pesquisa inovadora, conduzida por cientistas da Universidade Federal do Tocantins (UFT) e da Universidade do Vale do Taquari – Univates (RS), revelou evidências de que a floresta amazônica, especificamente na região de Rondônia, foi palco de incêndios florestais de causas naturais há aproximadamente 43 mil anos.

Publicado pela revista científica Journal of South American Earth Sciences sob o título “The first record of sedimentary macro-charcoal for the Upper Pleistocene of the Amazon“, o estudo analisou fragmentos de carvão vegetal macroscópico (macrocarvão) encontrados em sedimentos às margens do rio Madeira.
Esses vestígios, preservados por milênios na formação geológica, na Bacia do Abuña, representam o mais antigo registro de incêndios não provocados pelo homem já identificado na Amazônia e o primeiro para o período geológico do Pleistoceno Superior (entre 126 mil e 11,7 mil anos atrás) na região.
Evidências carbonizadas 276m42
A equipe examinou minuciosamente quatro amostras de sedimentos contendo tecidos vegetais carbonizados.
A análise laboratorial confirmou que esses fragmentos foram submetidos a altas temperaturas, prova inequívoca da ocorrência de incêndios.
Apesar da impossibilidade de identificar as espécies vegetais exatas devido à preservação, os cientistas acreditam que pertenciam ao grupo das angiospermas, que engloba a maioria das plantas com flores.
O dado mais intrigante da pesquisa reside na cronologia dos eventos. Os incêndios identificados ocorreram cerca de 30 mil anos antes dos primeiros indícios de presença humana na região amazônica.

Combustível natural 1e4q5j
Durante o Pleistoceno Superior, o planeta Terra experimentou intensas oscilações climáticas, alternando entre períodos glaciais e interglaciais, com variações nos níveis de umidade.
Essas mudanças ambientais podem ter criado condições propícias para a ignição e propagação de incêndios na Amazônia, especialmente em áreas onde a vegetação se tornou mais seca e, consequentemente, mais inflamável.
Amazônia: uma história de transformação 1r573l
Segundo o estudo, a descoberta desses incêndios pré-humanos na Amazônia não minimiza a gravidade da atual crise de incêndios na região, que são predominantemente causados por atividades humanas ligadas ao desmatamento e à expansão agrícola.
Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que somente em 2022 foram registrados mais de 70 mil focos de incêndio na Amazônia brasileira durante a estação seca.

“Este estudo pioneiro abre um novo campo de investigação científica na Amazônia: o estudo dos paleoincêndios. A identificação de macrocarvão em estratos geológicos antigos oferece a oportunidade de reconstruir cenários climáticos do ado e, potencialmente, fornecer insights para a compreensão dos impactos das mudanças climáticas atuais sobre a floresta. Além disso, os resultados desafiam a visão tradicional de uma Amazônia sempre úmida e imune ao fogo”, diz trecho do estudo.
Os pesquisadores planejam expandir suas investigações para outras áreas da Amazônia, buscando mais registros de incêndios antigos com o objetivo de construir um panorama mais completo da história do fogo na região e seus efeitos sobre a vegetação ao longo do tempo.
O estudo é assinado por Karielly Aparecida Borges do Amaral, José Rafael Wanderley Benício, Kellen Lagares Ferreira Silva, Júlia Siqueira Carniere, Etiene Fabbrin Pires-Oliveira e André Jasper.