Brasil é o país mais geneticamente diverso do mundo, revela pesquisa inédita 2t4ii
Estudo inédito sequenciou o DNA de 2,7 mil brasileiros e revelou que nossa história de miscigenação está gravada nos genes — com impactos diretos na saúde e na identidade nacional 5t246f
O Brasil começou com os povos indígenas, foi invadido por europeus e viu milhões de africanos serem trazidos à força como escravizados. Essa história, conhecida dos livros, agora também se confirma nos genes. Uma pesquisa inédita, publicada nesta quinta-feira (15) na revista científica Science, revela que o Brasil é o país com a maior diversidade genética do mundo.
O estudo sequenciou, pela primeira vez em larga escala, o genoma de 2,7 mil brasileiros de todas as regiões, incluindo populações urbanas, rurais, ribeirinhas e indígenas. A pesquisa integra o projeto DNA do Brasil, coordenado por cientistas da USP em parceria com o Ministério da Saúde.

DNA em forma de mosaico 4t584m
Os resultados mostram que o DNA brasileiro é um mosaico formado por 60% de ancestralidade europeia, 27% africana e 13% indígena — com grande variação por região: a herança indígena é mais presente no Norte, a africana no Nordeste e a europeia predomina no Sul e Sudeste. O Centro-Oeste e o Sudeste reúnem a maior mistura.
Apesar de 90% dos povos indígenas terem sido exterminados desde o início da colonização, fragmentos genéticos desses povos ainda estão presentes nos brasileiros de hoje. O estudo também identificou combinações de genomas africanos que não existem mais na África, resultado da mistura de povos de regiões distantes, forçados a conviver e se miscigenar no Brasil.
Violência marcada nos genes l4432
Os dados também revelam marcas da violência sexual que marcou o processo de colonização. Segundo os pesquisadores, 71% das linhagens do cromossomo Y, transmitido por via paterna, são de origem europeia. Já a maioria das linhagens mitocondriais, herdadas das mães, são africanas (42%) ou indígenas (35%).
A miscigenação se intensificou entre 1750 e 1785, com a corrida do ouro e a chegada de milhares de portugueses. O processo começou no Nordeste e Sudeste e se espalhou depois para o Sul e, por fim, para o Norte. O estudo definiu 18 perfis genéticos distintos, com predominância de perfis altamente misturados, alguns com mais de dez ancestralidades diferente
Seleção natural e saúde pública 6s4p10
Um dos achados mais impressionantes é a frequência elevada de variações genéticas associadas a fertilidade, metabolismo e resposta imune. Os cientistas levantam a hipótese de que tenha ocorrido uma seleção natural para essas características — ou seja, pessoas com esses genes tendiam a se reproduzir mais e sobreviver melhor.
A pesquisa identificou 8,7 milhões de variações genéticas nunca antes catalogadas. Destas, mais de 36 mil estão associadas a doenças metabólicas e infecciosas, como:
• Hipertensão
• Colesterol alto
• Obesidade
• Hepatite
• Gripe
• Tuberculose
• Salmonelose
• Leishmaniose
Caminho para a medicina personalizada mh4l
Os dados têm impacto direto na medicina de precisão, que usa a genética do paciente para prever doenças, antecipar diagnósticos e definir o tratamento ideal. Hoje, boa parte das referências genéticas globais vêm de populações europeias e americanas, compostas majoritariamente por pessoas brancas — um retrato distante da realidade brasileira.
Com a nova base genética, será possível identificar riscos específicos, entender respostas diferenciadas a medicamentos e calibrar tratamentos de forma mais eficaz. A expectativa dos pesquisadores é que os dados ajudem a combater o apagão de informações genéticas sobre a população brasileira e orientem políticas públicas de saúde mais inclusivas e eficientes.