Sem documentos, sem saúde e com fome: irmãos de Cuiabá vivem na invisibilidade 3s371t

Toninho, José e Marildo vivem no Jardim Vitória e sobrevivem com materiais recicláveis do lixão 3n5n6y

Imagine estar vivo, mas não existir. Ser de carne e osso e, ao mesmo tempo, invisível aos olhos da sociedade. A inexistência de quem é visto todos os dias e tem endereço fixo, mas parece impossível no mundo. É assim que vivem os irmãos Toninho, José e Marildo, no Jardim Vitória, em Cuiabá, e enfrentam diversas dificuldades para sobreviver.

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Irmãos vivem a invisibilidade em Cuiabá. (Foto: TVCA)

Os três não tinham documentos até o ano ado – era como se não tivessem nascido. A irmã mais nova deles foi quem buscou ajuda para que eles pudessem receber algum tipo de auxílio.

“Eu levei uma folha com o nome dos meninos escrito, porque precisava registrar, né? Encontrei ela lá e entreguei o papel para ela. Ela marcou de vir e conhecer meus irmãos”, relembrou a irmã deles, a dona de casa Nair Amaro.

A mulher que recebeu o bilhete é a agente comunitária do Tribunal de Justiça, Nilza Campos. Ela foi atrás dos meios legais para ajudar os irmãos a serem registrados.

“A Defensoria Pública foi atrás e não tinha como ajudar. Daí foi feito o registro tardio, após autorização do juiz”, explicou.

“Contamos com apoio da Receita Federal, onde foram feitos todos os Fs dessa família. A partir disso, estamos buscando os BPC [Benefício de Prestação Continuada] para auxiliá-los, já que viveram mais de 30 anos no entorno de Cuiabá com total ausência do estado”, disse o juiz-coordenador da Justiça Comunitária de Mato Grosso.

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Dona Nair Amaro fez pedido de auxílio. (Foto: TVCA)

Apesar da documentação em mãos, o prejuízo por ter ado tanto tempo na invisibilidade é incalculável. Coisas comuns a muitos eram impossíveis para eles. Estudar, trabalhar, ir ao médico e, principalmente, comer dignamente todos os dias, são direitos que eles nunca tiveram.

“Mal faço uma refeição por dia. A gente tem que economizar, porque o arroz está caro. Se fizer almoço e fizer janta, acaba o arroz rápido, gasta mais o arroz”, relata o catador de recicláveis Toninho Amaro.

Os irmãos são do Paraná e se mudaram para Mato Grosso na infância com a família. Dois irmãos já tinham registro, mas a falta de instrução foi barreira na busca por melhores condições. Sem renda fixa, sempre faltou o básico.

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Resto de comida da família. (Foto: TVCA)

No fundo da casa, eles reúnem o material retirado do aterro sanitário e de onde sobrevivem. Os irmãos vendem os produtos para a reciclagem, mas o dinheiro que recebem é muito pouco. Por isso, muitas vezes, recorrem ao lixo para se alimentar.

“Pão achado na rua, do lixo da rua. A gente raspa ele com a faca e escolhe o que tá melhor”, contou o catador de recicláveis, Benedito Amaro, ao mostrar um pão embolorado.

O arroz e o feijão na a do Toninho foram feitos no dia anterior à visita da TV Centro América. Ele havia guardado o que sobrou para poder jantar à noite. “Está meio azedo, mas a gente é acostumado a comer coisa azeda” disse. O catchup encontrado no lixo serve como tempero.

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Arroz estava azedo e feito no dia anterior. (Foto: TVCA)

“Dá um gostinho no arroz, né? Porque o arroz eu já faço sem alho, não tem tempero, nada. Então, tem que ter alguma coisa. Nós amos até sede aqui. A gente já chegou a tomar até água do lixão, do açude, água suja”, revelou.

A casa onde moram ficam na região conhecida como Terra Prometida, que foi alvo de invasão em Cuiabá. Usaram sucata para fazer as paredes e dividir os quatros.

Entre os irmãos, só Toninho e Benedito têm condições físicas de continuar com o recolhimento do lixo seco para a reciclagem. Marildo tem elefantíase e deficiência auditiva e mal consegue ficar em pé por causa das dores. José também é deficiente auditivo.

Já João ganhou muito peso nos últimos tempos e não consegue mais ir ao aterro porque se sente mal ao caminhar ou pedalar por um longo período. Precisa ver um médico para descobrir a causa e a esperança é que com os documentos em mãos, assistência e informações para poder, ao menos, receber algum auxílio do governo.

“O que dói em mim é não poder ajudar mais eles, né? Não posso ajudar nem eu mesma. Mas agora eu estou mais feliz que eles registrados, têm os documentos”, se emocionou Nair.

“Meu sonho é sair dessa vida. O pessoal fica olhando a gente pegar os recicláveis, mas tem que pegar, senão a fome”, confessou Benedito.

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