Parceria selvagem: onças-pintadas desafiam padrões no Pantanal
Durante três anos, um grupo de pesquisadores observaram um novo padrão social das onças-pintadas: a formação de coalizões, um comportamento de colaboração entre os felinos.
Predadoras solitárias, assim são conhecidas as onças-pintadas. Mas um comportamento, considerado raro entre elas, vem sendo observado por pesquisadores no Pantanal. As onças macho têm formado coalizões, que se configuram quando um grupo de dois felinos ou mais colaboram entre si.

Durante três anos, um grupo de pesquisadores observaram sete coalizões, todas elas entre onças macho. O comportamento pôde ser percebido nos Llanos da Venezuela e no Pantanal do Brasil.
O biólogo Fernando Tortato, um dos autores do artigo “Comportamento colaborativo e coalizões em onças machos (Panthera onca) – evidências e comparação com outros felinos”, explica que esse é um comportamento incomum, entretanto, o Pantanal é um ambiente rico, o que favorece essa postura entre os felinos.
Primos em predação
Uma das coalizões observadas no Pantanal mato-grossense é entre os primos Rio e Manath. A dupla é um exemplo de colaboração e afeto na vida selvagem. Em vídeo publicado nas redes sociais, o fotógrafo Lawrence Wahba ressalta como a coalizão entre a dupla é um fato novo para a ciência. Veja abaixo:
“Nesse caso, são dois machos jovens que têm benefícios de andarem juntos, e assim eles conseguem se defender melhor dos machos adultos e também manter um território mais estável. Então, essa seria a vantagem para os dois andarem juntos”, explica Fernando.
Resultados do estudo
Os autores analisaram dados de cinco estudos de longo prazo com armadilhas fotográficas, telemetria GPS e observações diretas nos Llanos da Venezuela e no Pantanal brasileiro.

O estudo analisou mais de 7.000 registros de machos obtidos por armadilhas fotográficas, telemetria GPS e observações diretas, detectando 105 interações entre onças-pintadas machos.
Destas, 70 foram classificadas como cooperação ou coalizão, enquanto 18 foram casos de agressão. Em dois dos estudos analisados, dois machos formaram alianças que duraram mais de sete anos.
Com essas novas evidências, pesquisadores podem reavaliar estratégias de conservação das onças, levando em conta suas dinâmicas sociais e como essas interações influenciam a estrutura populacional da espécie.