Paraíso das antas é tesouro escondido em área dominada por onças-pintadas 6h243f
Terceira reportagem da série sobre os animais do Pantanal mostra a estrela escondida entre os felinos 622h4
Quando o assunto é Pantanal, o imaginário popular logo associa a cena às onças-pintadas, um dos símbolos locais. Mas, outra espécie vem sendo desvendada pela ONG Onçafari, que fixou uma de suas bases em Miranda. As antas têm um paraíso escondido no refúgio ecológico Caiman.

Desde 2021, a organização direciona seus esforços para desvendar os mistérios desta espécie tão emblemática da fauna brasileira com o projeto Tapirapé.
O biólogo e guia responsável pela iniciativa, Diogo Lucatelli, com mais de uma década de Pantanal no currículo, compartilha o fascínio que o motivou a iniciar essa nova jornada.
“As antas são animais de hábitos noturnos, muito ariscos e, por isso, pouco observadas. Os mistérios que cercam seu comportamento sempre me intrigaram: onde dormem, quais plantas preferem, como e quanto interagem entre si”, revela.

A proposta de eleger a anta como alvo foi recebida com entusiasmo, e, desde então, grande parte do seu tempo é dedicada à busca e observação do maior mamífero terrestre do Brasil.
Apesar da abundância de recursos e refúgios que a maior planície alagável do mundo oferece, a presença constante da onça-pintada, principal predadora natural da anta, torna o trabalho de aproximação um desafio.
“Nesse cenário, faz todo sentido que sejam bichos desconfiados e arredios. E têm poucos motivos para confiar em qualquer primata desajeitado como eu, fazendo barulho com o quadriciclo ou a pé”.
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Segundo o profissional, a equação de paciência e respeito aplicada nestes quatro anos de estrada rumo às antas, tem apresentado avanços significativos.
O cotidiano das antas 6w1q1t
A grosso modo, o monitoramento das antas é o mesmo utilizado para as onças-pintadas. Contudo, algumas particularidades diferenciam o processo.
“Seria impossível alcançar as mais de 80 horas de observação de antas que acumulei sem um dispositivo de rastreamento”. Na espécie, pequenos brincos com emissores de VHF são colocados nas orelhas dos animais, permitindo sua localização em campo por antenas e receptores.

O dia começa ainda escuro para a equipe. Logo nas primeiras horas da manhã os biólogos vão a campo em busca de antas que ainda estejam em atividade, já que os hábitos delas são na maioria noturnos.
Lucatelli registra cada movimento com GPS, anotando comportamentos e características do ambiente. Com o sol a pino, elas seguem mata adentro para descansar, tornando a observação direta mais difícil.
O paraíso secreto das antas 2r6f4h
Múpina, fêmea que proporcionou avanços consideráveis no estudo da espécie, conduz essa jornada. Habitante de uma área de pastagens naturais com pequenas ilhas, ela demonstrou um comportamento incomum ao escolher dormir ocasionalmente à beira da mata.

“Isso abriu possibilidades sem precedentes para mim. De repente, pude ar horas a fio fazendo observações comportamentais a pé, a cerca de 15 metros dela”.
Mãe de Mavé, Múpina serviu, ainda, de exemplo comportamental materno. A equipe estudou até mesmo os períodos de amamentação e brincadeiras entre ambos.
Tanto, que a dupla se habituou à presença do pesquisador e do barulho do quadriciclo, tolerando inclusive a presença de grupos de turistas em veículos de safári, desde que mantida uma distância adequada.
Números 2o5b1w
Apesar de proporcionalmente menor escala se comparado às onças, o resultado do trabalho árduo acerca das antas já se tornou histórico à região.
“Historicamente, cerca de 28% dos visitantes viam antas; mas em 2024 o índice foi de 40%! E, claramente, o longo trabalho com as nossas três mais vistas foi fundamental para este avanço”.

Para se ter ideia, em 2024, ao menos 40 indivíduos de antas foram identificados na propriedade, com quase 20% dos encontros envolvendo Múpina, Yoti – companheiro da fêmea – e Mavé.
Agora, o time de monitorados aumentou. Antonieta e Bagual ganharam seus brincos de monitoramento. A expectativa é em breve a pesquisa ganhe novos frutos.
“Se entre estes bons frutos vierem, também, mais encontros de turistas com antas tranquilas, melhor ainda! Daí, haverá mais força nessa engrenagem que faz do turismo um motor para conservação e ciência!”.