Fotógrafo faz guarda por 5h e registra belezas e perigos em ninho de MS 4545z
Nos registros tem vários momentos incríveis, entre eles, um filhote comendo uma cobra d’água, um lanche oferecido pela mamãe tuiuiú 2a2m51
Guilherme Giovanni, 51 anos, treinou o olhar desde cedo para encontrar as belezas da terra em que nasceu: o Pantanal. É capaz de montar guarda por 5 horas ou mais, só para registrar com precisão a vida de quem nasceu pertinho do céu azul, mas que pelas queimadas precisou se acostumar com ninhos artificiais.

A foto que mostra uma tuiuiú, a ave símbolo do Pantanal, com seus três filhotes, foi feita no dia 27 de dezembro, às margens da BR-262, no ninho artificial construído para substituir o original, que foi destruído nos grandes incêndios de 2020.
“Eu acompanho o Pantanal já há muitos anos como fotógrafo e em 2020 esse ninho foi queimado e aconteceu aquela história toda de implantar um novo. Recentemente descobriram que tinham os filhotes, eram 4, mas um não sobreviveu, ficaram os três. Eu sempre o por ali porque eu saio para fotografar em Miranda, Estrada Parque, toda aquela região. E um dia, resolvi ficar ali plantado 5 horas para registrar esses detalhes deles. Fiquei full time, o tempo todo fotografando”, explica.
Guilherme Giovanni, fotógrafo









Nos registros tem vários momentos incríveis, entre eles, um filhote comendo uma cobra d’água, um lanche oferecido pela mamãe tuiuiú. “Eles comem esses animais. O da foto parece ser aquelas cobras d’água que ficam ali naquela região, eles se alimentam disso, tanto os adultos como também os filhotes”, explica.
A alimentação ocorreu por volta das 13h. “Ela alimentou todos eles, os três, aí ficaram brincando um pouquinho e tal e dormiram. E ela saiu do ninho. Eu falei bom, agora eu quero esperar ela voltar, filmando e sondando ali, de que lado que ela ia voltar, porque eu queria pegar o pouso”, conta.
Observando os animais, o fotógrafo percebeu que além da parte “bonita”, também havia riscos para as aves e os humanos que transitam pela região.

Segundo ele, o fluxo de carretas e caminhões aumentou muito nos últimos anos na BR-262, o que eleva o risco de atropelamento, inclusive das aves.
“O rio estava seco, então o escoamento da produção tem sido feito pelas estradas. Mas essas carretas têm até 28 metros de comprimento e até uns 5 metros de altura, entre cabine e tudo. O tuiuiú precisa de espaço para levantar o voo, porque são animais muito pesados. O que eu notei observando o ninho é que a mãe acaba cruzando a estrada em uma altura perigosa, até conseguir levantar o suficiente para não ser atingida”, ressalta.
De acordo com o fotógrafo, ele já tentou alertar as autoridades da região pelo risco, mas recebeu como resposta “que nunca nenhum tuiuiú morreu atropelado”.

“Pois é, eu tenho a foto do momento que poderia ter sido esse flagrante [de atropelamento], um caminhão vindo na direção dela enquanto ela estava saindo do ninho pra poder buscar alimento para o filhote. Por ela ser muito pesada, ela busca altura e a rente a estrada. Então, o risco existe. Não morreu antes talvez porque não tinha o volume de caminhão que hoje tem circulando em vários horários nesta estrada”, frisa.
Guilherme acredita que o ninho, pela importância que tem, deveria ser monitorado com câmeras 24 horas, até pela questão científica. “Eram 4 filhotes e agora apenas 3. O que aconteceu com o outro? Ninguém sabe. Ganharíamos muito se o ninho fosse monitorado”, pontua.
Além disso, defende que a estrada tenha avisos sonoros e redutores de velocidade no trecho. “Outra coisa que tem acontecido é que vários turistas e moradores param no acostamento da estrada para tirar foto do ninho. É um acostamento estreito e pode ter risco de acidentes”, acredita.
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O Primeira Página entrou em contato com o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) sobre a possibilidade de sinalização diferenciada no trecho da BR-262.
Em nota, o Dnit “salienta que – por meio dos contratos para elaboração de estudos ambientais, de estudos de terras indígenas e na execução dos contratos de gestão ambiental em rodovias sob istração desta autarquia – realiza campanhas de sensibilização ambiental junto aos usuários e comunidades lindeiras às rodovias, além de ações com os colaboradores dos empreendimentos. Vale reforçar que estes contratos de Gestão Ambiental integram medida de mitigação e/ou de compensação exigida pelos órgãos ambientais licenciadores das obras executadas pelo DNIT”, ressalta.
O órgão ainda reforçou que “entre essas ações, o DNIT realiza o monitoramento da presença de animais ao longo da área de influência do empreendimento e da incidência de animais atropelados nas estradas por meio da execução de programas ambientais específicos”.
E que entre essas medidas estão “a identificação e definição dos hotspots de travessias e atropelamentos de animais; instalação de cercas guias ao longo do trecho rodoviário servindo como barreira e estrutura de contenção para os animais, ao longo da faixa de domínio da rodovia; implantação de agens de fauna aéreas e subterrâneas que auxiliam na manutenção do fluxo das populações de animais silvestres entre lados distintos da rodovia, evitando o isolamento dessas populações; implantação de placas sinalizadoras orientativas e educativas, quanto à presença de animais, redução da velocidade e outros, de forma a diminuir a incidência de atropelamentos e a garantir a proteção das espécies; monitoramento das estruturas com metodologias específicas como câmeras-trap (equipamentos com sensores de movimento/temperatura que registram imagens automaticamente quando um animal a diante do seu visor) e caixas de areia”.
Porém, o órgão não respondeu se pretende colocar essas sinalizações no trecho mencionado.