Fotógrafa especialista em vida selvagem conta bastidores de foto premiada 4c44o
O cenário foi o Pantanal de Miranda, cidade 190 quilômetros distante de Campo Grande. 5o27e
Com fotografia que mais parece pintura, a bióloga, fotógrafa e guia bilíngue no Onçafari, Giovanna Leite, conquistou o primeiro prêmio de sua carreira. O cenário foi o Pantanal de Miranda, cidade 190 quilômetros distante de Campo Grande.

Era manhãzinha de um dia que parecia como todos os outros. A equipe saiu em busca das estrelas da casa, as onças-pintadas. Mas, no meio do caminho havia um veado-campeiro, havia um veado-campeiro no meio do caminho e assim, como que compondo uma poesia, Giovanna iniciou o rito de captar a imagem.
Longe de apenas clicar num botão, a profissional sabia que precisaria de paciência para chegar ao frame perfeito. Os personagens eram o veado-campeiro albino e sua mãe, na imensidão do verde pantaneiro do refúgio ecológico Caiman.

O momento rendeu muito mais que o retrato de amor entre filhote e mamãe. Trouxe o terceiro lugar na categoria Natureza do Prêmio Photo Show 2025, maior festival de fotografia da América Latina.
Confira abaixo entrevista na íntegra com a profissional e os bastidores da foto premiada:
PP – Como chegou no Onçafari?
GL – Conheci o Onçafari logo no meu primeiro semestre da faculdade e, desde então, ei a irar a instituição. Sempre estive atenta às vagas e redes sociais da organização. Ao longo dos anos, me candidatei algumas vezes, até que, em 2023, finalmente consegui uma vaga de guia bilíngue e bióloga na base da Caiman Pantanal, bioma no qual sempre sonhei em trabalhar.
PP – Como foi o bastidor para tirar a foto premiada?
GL – Foi um dia como qualquer outro, saímos bem cedo em busca das onças-pintadas e para monitorar a fauna local. Durante o monitoramento, sabíamos onde o veado-campeiro albino estava, acompanhado de sua mãe, e decidimos seguir em direção ao local. Procuramos, mas não o encontramos.
No entanto, ao retornarmos, avistei um pequeno ponto branco no meio do campo. Ao ajustar os binóculos, percebi que era ele. Ficamos imensamente felizes e, sem hesitar, descemos do carro e fomos em sua direção. Naquela época, ele era um filhote e ainda estava sob os cuidados da mãe.
Caminhamos cuidadosamente, mantendo uma certa distância, enquanto observávamos como ele e a mãe reagiam à nossa presença, respeitando muito o espaço deles. Ficamos paradas, apenas observando. Com o tempo, eles começaram a se aproximar de nós, interagindo entre si.
Foi então que, com um gesto de ternura, começaram a se esfregar e se limpar mutuamente, e o filhote albino seguiu sua mãe com carinho. Nesse momento, totalmente emocionada e arrepiada, fiz o registro que hoje considero um dos mais especiais de todo o meu trabalho.

PP – Qual a sensação de ter o trabalho reconhecido?
GL – Nossa, foi completamente gratificante! Ser mulher neste meio ainda é um desafio, mas todo esse reconhecimento foi incrível. Foi a minha primeira fotografia realmente reconhecida por um concurso de tamanha magnitude, como o Brasília Photo Show, um dos maiores festivais de fotografia da América Latina e foi um lembrete pessoal de que todo o nosso trabalho está valendo a pena.
PP- Quais registros mais gosta de fazer e qual o mais inusitado?
GL – Essa é uma pergunta desafiadora para mim, porque como bióloga e fotógrafa de natureza, eu sou completamente apaixonada por tudo. Mas meu coração bate mais forte em fotografar grandes mamíferos, vida marinha e primatas em diferentes tipos de comportamento e em vida livre, o que é sempre um desafio.
Fotografar as onças-pintadas em seu habitat natural ocupa um lugar muito especial no meu coração, pois, aqui no Onçafari, na base da Caiman Pantanal, temos o privilégio de “morar” com elas, em suas próprias casas. As monitoramos constantemente, acompanhando de perto suas vidas e criando um histórico único de cada indivíduo, o que é uma experiência incrível, trazendo muito conhecimento sobre os onças.
Acredito que o registro mais marcante e inusitado foi, sem dúvida, a fotografia do veadocampeiro albino, mas também de uma jaguatirica idosa que tive a oportunidade de fotografar. Foram situações extremamente raras e mais que especiais, algo que jamais esquecerei.

PP – Qual a importância do Pantanal na sua carreira?
GL – Atualmente, o Pantanal representa tudo para mim! A primeira vez que estive, em 2022, no Pantanal Norte, me apaixonei completamente por esse bioma. É um lugar no coração do Brasil, onde a biodiversidade pulsa de forma impressionante, e a quantidade de animais que conseguimos observar é simplesmente fascinante. É um encantamento que conquista qualquer pessoa, inclusive a mim.
No ano ado, finalmente consegui voltar para trabalhar aqui, e é nesse ambiente que estou crescendo profissionalmente nas áreas que mais amo: biologia, conservação e educação ambiental. Trabalhar com turistas de todo o mundo e levar a mensagem da conservação para diferentes lugares tem sido uma experiência enriquecedora.
Além disso, é aqui que minha fotografia tem evoluído, permitindo-me atingir um público cada vez maior e mais engajado.