Linda e rara, a cobra muçurana, chamada popularmente de cobra-preta, tem um paladar excêntrico. Além de aves, a serpente é ofiófaga, ou seja, se alimenta de outras cobras, inclusive as peçonhentas, como as cascavéis e as jararacas, sendo imune ao veneno delas.
Muçurana. (Vídeos: Guilherme Barrozo/Instagram)
Conforme o Instituto Butantan, a muçurana tem, em média, 1,5 m de comprimento, mas pode alcançar até 2,5 m na vida adulta.
Entretanto, apesar do seu tamanho gigantesco e da aparência assustadora, a espécie é inofensiva para humanos, sendo facilmente manuseável, ao ponto de ser conhecida também como “cobra do bem”.
Muçurana devora até cascavel 36563r
A muçurana vence facilmente um embate com jararacas, cascavéis e urutus, famosas por seus venenos mortais. A única espécie de cobra capaz de matá-la é a coral-verdadeira, que possui o veneno mais letal entre todas as serpentes do Brasil.
Muçurana. (Foto: Guilherme Barrozo)
Na hora do bote, a cobra-preta se enrola em volta da outra serpente para pressioná-la e, geralmente, começa a se alimentar pela cabeça – para evitar que a presa tente morder em defesa.
Por conta da sua capacidade predatória sobre outras espécies, a cobra-preta tem um papel muito importante na natureza, pois ajuda a controlar o número de acidentes com cobras venenosas. Sua dieta também é composta por pequenos mamíferos, aves e lagartos.
Apesar de ser uma espécie endêmica de estados como Bahia, Ceará, Maranhão, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte, encontrá-la na natureza não é algo tão simples, conforme explica o biólogo e educador ambiental Guilherme Barrozo.
Pelo Instagram, o ambientalista narrou a emoção de se deparar com a espécie rara mais de uma vez:
“Para se ter uma ideia, tem gente que trabalha há décadas com serpentes e nunca viu mais do que três indivíduos dessa espécie. Eu tive a grande felicidade de avistar cinco indivíduos dessa joia rara só este ano (2024).”
Na rede social, Barrozo também chamou atenção para outra característica interessante da espécie: quando jovem, a muçurana apresenta detalhes vermelhos na cabeça e no ventre; já quando adulta, ela perde essa coloração avermelhada e fica totalmente preta.
Ainda conforme o Instituto Butantan, o nome “muçurana” deriva da palavra em tupi-guarani “muçum”, que significa alongado, esguio, corda (existe um peixe alongado chamado popularmente de muçum), e “rana” (aquele que tem forma de, aparência de). Ou seja, ela é parecida com o peixe muçum – também conhecido como “peixe-cobra”.
A imagem da muçurana devorando a jararaca é vista como uma representação do bem contra o mal, do soro contra o envenenamento, e chegou a inspirar os logotipos do Butantan. O símbolo é encontrado em alto-relevo na fachada do primeiro prédio do instituto, que hoje abriga a Biblioteca, e, durante muito tempo, estampou o selo que lacrava as embalagens dos soros.
A cobra-preta foi parar até em cédulas de 10 mil cruzeiros, expedidas entre 1991 e 1994, em homenagem a Vital Brazil. As notas apresentavam, de um lado, uma foto do cientista e uma ilustração da extração de veneno, e, no verso, a muçurana atacando a jararaca.
Fundador do Butantan, Vital Brazil, fazendo uma demonstração para visitantes da muçurana se alimentando de uma jararaca. (Foto: Acervo Instituto Butantan/Centro de Memória)
A imagem abaixo, datada de 1912, mostra o fundador do Butantan, Vital Brazil, fazendo uma demonstração para visitantes da muçurana se alimentando de uma jararaca. O nome científico da espécie, Rhachidelus brazili, inclusive, é uma homenagem a Vital.
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